terça-feira, 31 de março de 2020

“A Peste” e “Ensaio sobre a Cegueira”: dois livros fundamentais na quarentena



Estamos vivendo dias cabulosos onde uma parede branca parece estar à frente de nossos olhos. Nem imagino como sairemos dessa - não há receita pronta e o máximo que sei é o modelo de outros países – apenas vivo um dia após o outro na vastidão da pandemia ocasionada pelo Covid-19, o novo Coronavírus. 

No início, pensei que o isolamento seria ficar em casa e fazer o que gosto: cuidar de mim, ler, escrever, produzir e até arrumar as gavetas. Que nada! Neste tempo, a preocupação substituiu o pensamento egoísta e pensei mais no coletivo. 

Bombardeada minuto a minuto com as mudanças mundiais e fake news  que vem às toneladas via WhatsApp, acompanhei a luta terrível da “ignorância x ciência” e isso tem um custo caro: a paz! Somos personagens de um filme de extremo mau gosto num futuro incerto por não saber se o Brasil tem capacidade de aguentar (outros países se deram mal), portanto o isolamento social é o que representa alguma proteção. 

Hoje, último dia de março, após respirar melhor e enxergar através da neblina, estou conseguindo cuidar mais do meu estado de espírito, sem deixar de acompanhar as notícias e divulgar as que forem confiáveis. Dessa forma, também estou disposta a colocar as leituras em dia.

Sigo relendo a trilogia “O Tempo e o Vento”, de Erico Veríssimo. Estou no primeiro volume do último livro intitulado “O Arquipélago”, e em breve conto detalhadamente como é a experiência de uma releitura desse livro gigantesco que considero o “Game of Thrones brasileiro”.

Mas aqui estou para indicar duas leituras que entendo como fundamentais por retratarem epidemias porque elas nos mostram, vividamente, os perfis das personagens literárias que se confundem com o que vemos no dia a dia: os vilões, os mocinhos, os solidários, os que estocam comida, os que não sabem de nada, os que muito sabem e não compartilham, o povo, o governo, os que reclamam e não agem, e milhões de caricaturas facilmente reconhecidas no meio virtual quando o assunto é uma crise séria. 

As duas dicas são de livros que, independente do mundo atravessar uma pandemia, entram no meu rol de melhores leituras da vida: “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago e “A Peste”, de Albert Camus. Ambas as leituras são nuas e cruas, em nenhuma delas você sai aliviado e o incômodo é maior com o que é capaz um ser humano em situação extrema, do que com a própria epidemia retratada. 

Confira um breve release de cada uma e se tiver coragem, leia. O momento em que vivemos pede essas leituras: 

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, de José Saramago

Release da contracapa do livro:

“Um motorista, parado no sinal, subitamente se descobre cego. É o primeiro caso de uma “treva branca” que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos vão se descobrir reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas.

O Ensaio sobre a Cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar “a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”. José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.

Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, face à pressão dos tempos e ao que se perdeu – “uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”.

A PESTE, de Albert Camus

Release da contracapa do livro:


"Com A Peste, Albert Camus tenta a demonstração de um novo cogito cartesiano: “Eu me revolto, portanto nós somos.” Pois a revolta (individual) contra o absurdo é também revolta (coletiva) a favor dos valores que a própria revolta revela.

Alegoria da condição humana, A Peste é também uma alegoria de acontecimentos históricos ainda recentes: a cidade de Oran assolada pela epidemia lembra a França ocupada da Segunda Guerra Mundial e a infecção do nazismo. Romance de resistência, portanto, em todos os sentidos da palavra.

Meursault, o anti-herói de “O Estrangeiro”, revive, aqui, com os traços do jornalista Tarrou. Mas a trágica trajetória de um destino meramente individual assume, em A Peste, sua verdadeira dimensão. O absurdo é universal.

Nada melhor - como já mostrara André Malraux na sua fase romanesca - do que uma crise coletiva para revelar ao indivíduo acuado os valores não individuais – políticos, éticos, metafísicos - que constituem sua preciosa individualidade. 

Como o próprio Malraux, como Sartre e como tantos outros intelectuais e artistas franceses do século XX, Camus descobre a primazia do coletivo com suas personagens lúcidas e atormentados, cujas histórias particulares se encontram repentina mas decisivamente emaranhada nos fios de chumbo da História, o romance A Peste pode ser lido com uma crônica deste descobrimento".

Albert Camus em três frases:

“É no momento da desgraça que a gente se habitua à verdade, quer dizer, ao silêncio.”

“Agora, sei que o homem é capaz de grandes ações. Mas se não for capaz de um grande sentimento, não me interessa.”

“Quem podia afirmar que a eternidade de uma alegria podia compensar um instante da dor humana?”

José Saramago em três frases: 

“A alegria e a tristeza podem andar unidas, não são como a água e o azeite.”

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”

“O difícil não é ter que viver com as pessoas, o difícil é compreende-las.”

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