Lançado em 2018 por uma empresa canadense pequena, o jogo “Celeste” chamou atenção do público e da crítica quando foi indicado, no ano passado, ao GOTY (Game of the Year, também conhecido como o Oscar dos videogames) na categoria principal, ao lado de títulos como “God of War” e “Red Dead Redemption 2”. Tal indicação merece ser levada em consideração, especialmente quando constatamos que “Celeste” é um jogo indie e sem grandes pretensões, ao lado de jogos com orçamentos milionários de estúdios renomados como Sony e Rockstar.
Ambientado inteiro em pixel art, que lembra os gráficos em 16-bit do Super Nintendo, “Celeste” é um jogo de plataforma 2D, baseado em pular, desviar de obstáculos, evitar inimigos, escalar, usar dash e resolver puzzles. Parece, a primeira vista, mais um jogo independente genérico que apela ao público saudoso por gráficos retros dos anos 90 e uma dificuldade absurda no level design, mas não se engane: o jogo é muito mais que isso. “Celeste” conta a história de Madeline, uma jovem que resolve se aventurar pelas montanhas nevadas do Canadá, caminhando por terras inóspitas. O diferencial, no entanto, fica pior conta da profundidade psicológica com a qual os personagens são desenvolvidos. Madeline sofre de crises de ansiedade, ataques de pânico frequente e possui um histórico de depressão. Ela encontra na escalada pela montanha um objetivo de vida que ela precisa, necessariamente cumprir, mesmo sem saber o porquê.
No caminho, ela conhece personagens extremamente peculiares e conversa com cada um deles em diálogos memoráveis e muito profundos. É fácil que façamos analogias a todo momento durante o gameplay, de elementos do level design que conversam (e muito bem) com o problema psicológico que a personagem vem passando. Temas como aceitação, dualidade humana, pressão social, bipolaridade e até suicídio são abordados no jogo.
A trilha sonora do jogo é absolutamente fantástica, baseando-se em composições de Lena Raine, que faz uma grande homenagem aos jogos clássicos ao evocar trilhas com sintetizadores, típicas de jogos da série “Megaman”. . Mas não é só isso, já que elementos de música eletrônica, trip hop, dubstep, lo-fi e big beat permeiam as músicas durante todo o jogo. Você vai se pegar ouvindo repetidas vezes as canções originais do game, disponíveis no Spotify, com destaque para a composição “Resurrections”.
“Celeste” é um jogo extremamente difícil. Você vai se frustrar e morrer inúmeras vezes, vai se perder no labirinto no melhor estilo metroidvania de algumas fases e vai querer jogar o controle pela janela. Mas, paciência: absolutamente todos os desafios propostos pelo jogo obedecem uma linha de aprendizado, e são perfeitamente superáveis, se você se dedicar de verdade. Um jogo super divertido e profundo, que propõe discussões muito pertinentes sobre autoestima, superação e amor próprio. Não apenas um dos melhores jogos indies, como também um dos melhores jogos da década. A prova definitiva de que videogame é arte do mais alto nível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário