sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Réquiem para um Sonho é, na verdade, um pesadelo em forma de filme (mas um pesadelo irresistível)

O diretor Darren Aronofsky assumia no início dos anos 2000 a direção de um dos principais projetos de sua carreira. Ao lado de um elenco de peso (leia-se Jared Leto, Jennifer Connelly e Ellen Burstyn) foi responsável por conceber “Réquiem para um Sonho”.


Trata-se de uma obra única na história do drama norte americano. Ao retratar o vício em drogas, medicamentos controladas e a alienação social promovida pela mídia televisiva, “Réquiem” mostra a degradação da vida humana em virtude das más escolhas, e levanta questionamentos existencialistas que rondam a cabeça do telespectador pelas duas horas de duração da película. Pelo que você está vivendo? . A obra aposta em uma linguagem altamente moderna, quase oposta ao cinema vanguardista clássico e conservador.


O diretor criou uma técnica de filmagem e edição batizada por ele de “hip hop montage” (hoje difundido pelo nome de “fast cutting”). O termo consiste em passar uma ação mais complexa através de takes consecutivos de ações simples, cujo uso de close-ups muito rápidos acompanhados de sons exagerados agem no intuito de fixar a atenção do espectador para um fluxo imagético, diretamente ligado à obsessão vivenciada pelo personagem, segunda a brilhante definição dada pela Revista Universitária do Audiovisual (link: http://www.rua.ufscar.br/darren-aronofsky-o-filme-sentido-em-carne-viva/).


Não bastasse a notável montagem e edição da obra, a trilha sonora é outro ponto que chama a atenção. Pautada na fusão de música clássica com remix típicos de mixtapes do hip hop e da música de rua americana, as composições surgem como uma fusão exótica de música erudita com uma roupagem eletrônica, em congruência ao estilo de vida dos personagens apresentados em tela. A fotografia, excessivamente granulada, assume tons escuros, e abusa de metáforas que representam sentimentos.

“Réquiem para um Sonho” é um filme destruidor. Apesar de denunciar o uso abusivo de drogas, não assume em momento algum julgamentos moralistas quanto ao tema. Pode-se dizer que trata-se das representação das angústias humanas quando todas as escolhas tomadas são erradas. Extremamente pesado e de temática adulta, o filme provoca reações diversas no público. Se você tem estômago fraco, passe longe.

Por fim, a película de Aronofsky é definida como um clássico moderno. Definitivamente nada vanguardista ou maniqueísta, mas cheia de elementos modernos que influenciaram exaustivamente as obras futuras que se seguiram posteriormente. O filme mais representativo do cinema de arte contemporâneo avesso às convenções pré estabelecidas em Hollywood.

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