segunda-feira, 2 de março de 2020

O PlayStation e a estética dos anos 90


Você já reparou que consegue "ouvir" algumas imagens? Se você cresceu nos anos 90 ou no início dos anos 2000, talvez seu cérebro complete involuntariamente a foto a cima com o som da típica vinheta da Sony ao ligar o PlayStation 1.

Leia escutando a playlist que eu fiz especialmente pra este post clicando no link abaixo (tentei adicionar canções que remetem à época do PlayStation 1, mas nem todas são, necessariamente, músicas dos anos 90). Se a playslist não carregar, por favor, atualize a página (F5).




A década de 90 é marcada por diversos exemplos de estratégias de marketing, design, sons e imagens icônicas; e o exemplo a essa afirmação não se limita ao som do PlayStation 1 ligando, mas também o som de iniciar do Windows, e, alguns diriam até, o barulho da internet discada em tempos pré banda larga no Brasil; que são igualmente marcantes. É comum que olhemos para o passado com nostalgia, mas será que o apreço à estética noventista de cores, sons e imagens pode ser resumido a um afeto nostálgico, ou de fato, tal estética sobreviveu ao tempo e ressurge como tendência na moda e no design nos tempos atuais?

Quando a cor branca era sinônimo de aparelhos tecnológicos high tech, e era estampada no monitor e na CPU de computadores, nos walkmen e nas caixas de som, no Gameboy, no Super Nintendo e no PlayStation 1, e quando o século ainda não havia virado; na MTV você assistia Oasis e no rádio você escutava Red Hot Chili Peppers. Quando uma geração descobria a paixão pelo skate e pelo punk rock influenciados por games como Tony Hawk's Pro Skater e quando sua mãe ainda não tinha quarenta anos, você ainda podia assistir um show do Legião Urbana na capital mais próxima da sua cidade. Quando você ainda alugava filmes em VHS e pagava multa se não rebobinasse a fita antes de devolver na locadora, você ainda tirava fotos em uma máquina (não digital), que granulava as fotos e deixava as imagens com uma qualidade duvidosa.

Você fazia isso tudo, mas sua cabeça constantemente pensava na iminente virada do milênio, que viria dali a alguns anos, e nas tecnologias que surgiriam. O Radiohead se rendia às tecnologias e previa a dependência digital que todos nós assumiríamos futuramente por aparelhos eletrônicos e pela internet, ao lançar o álbum intitulado Ok Computer, como quem diz "Ok, computador, você venceu: eu sou seu". Os anos 90 surgiram como uma antecipação do que seria o futuro, e o PlayStation representa como nenhum outro aparelho ou criação daquela década a mentalidade de um jovem que viveu a última década do século XX.


Embora eu tenha nascido em 1997, e pouco tenha visto dos anos 90 em si, cresci durante os anos 2000 em uma cidade pequena com pouco acesso à tecnologia, o que me permitiu desfrutar da vivência, no novo milênio, do que foi, pra mim, os anos 90. Assisti filmes em VHS, joguei em cartuchos de Super Nintendo/Nintendo 64 e em CDs piratas de PlayStation 1, tirei fotos com máquina de filme e revelei algumas, visitei o quarto da minha irmã que tinha uma coleção de álbuns antigos e um pôster do Kid Abelha na parede.

Não falo dos anos 90 com a mesma propriedade daquele que de fato viveu essa época, mas falo com a propriedade de quem emulou essa década nos anos 2000. Falo com a propriedade de quem viu os aparelhos high tech deixarem de ser brancos e passarem a ser tingidos de escuro. Celulares, monitores, televisões, computadores, notebooks, headphones e videogames: todos escuros.

Eu não poderia saber, mas hoje eu sei que o lançamento do PlayStation 2 (que não por acaso, era preto), simbolizava o rompimento dos anos 90, quando se vivia a expectativa do futuro. O futuro havia chegado, e era escuro.

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